Por Zé Alípio Martins
Querido
Papai Noel.
Quanto
tempo que o Senhor não aparece!
Quanto
tempo que não ouço aquela sua risada incomum!
Brincando...
Lá se vão 20 anos!
Sei
que também deve sentir, como eu, uma saudade de apertar o peito e fazer o
lagrimar ensopar os óculos.
Lembro-me,
que nessa época de Natal, costumava se virar de todo jeito e encontrar uma
maneira de nos presentear.
Não
devia ser fácil. Éramos sete. Meninas e meninos...
“Uma
roupinha diferente pras meninas que estavam ficando mocinhas”!
“Um
sapato novo pro mais velho, pois seu pé cresceu bastante”!
“Um
boneco chamado Paulinho pra mais nova”!
Um
fusca verde pra mim!
E
uma bola pro João...
Era
uma luta!
Mainha
corria pra máquina de costura e delegava a casa às meninas.
Era
“um tal”de mudar as coisas de lugar...E logo o chão estava vermelhinho e
deslizando de “Cera Parquetina”!
Dessa
vez... Ninguém reclamava dos afazeres.
Era
Natal e seu espírito já prenunciava tais atitudes.
“Na
“Radiola Stéreo Philips”, era tempo de ouvir o velho compacto duplo “A Harpa
Celestial”, as mesmas quatro canções do ano passado.
No
lado “A”... Só Natalinas: Jingle - Bells e Natal das crianças.
No
lado “B”... Boas Festas e Feliz Ano Novo.
Aquelas
canções nos deixavam solícitos e em harmonia.
Meu
querido Papai Noel!
Lembro-me
demais da sua luta e do seu jeito peculiar em nos atender.
Como
assistindo ao filme “ O Nascimento de Jesus”, acompanhei a sua mudança física. A
velhice ia trazendo-lhe marcas no rosto, nas mãos e cabelos.
Ao
perceber que tantos fios brancos “Surgiam de repente”! Quis disfarçá-los pintando-os...Lembro
bem!
-Ficou
esquisito. Disse minha mãe.
Fique
tranqüilo! Pois, todo Papai Noel tem cabelo e barba brancos.
Logo
você soube entender.
Por
sua pouca vaidade... Por sua maneira simples de viver.
Sempre
quis demonstrar que era forte e saudável. Corado e disposto.
Ninguém
imaginava que alguma doença estivesse te acompanhando!
Calada
e silenciosa!
Até
deixá-lo fraco, triste e enfermo.
Poucos
dias pro Natal e você partiu...
Era
14 de dezembro.
Casas
e ruas enfeitadas se mostravam alheias às nossas tristezas.
Passamos
o “Primeiro Natal”, sem o “Nosso Papai Noel”.
Não
houve cartas, árvores, presentes e risadas.
A
nossa casa ficou vazia e opaca sem a vermelhidão da Parquetina.
Viajamos
todos... Pra qualquer canto... Sofremos muito.
Naquele
ano ao tentar armar o presépio, coisa que nós dois fazíamos todos os anos
juntos, não consegui.
Não
consegui nem desenrolar os figurantes daquele papel de jornal que
cuidadosamente os enrolou.
Naquele
ano não nos alegramos em iluminar a goiabeira do sítio com a gambiarra de
lâmpadas coloridas que o senhor confeccionou.
Aquele
ano Pai, não teve Noel e nem Natal!
Sua
calça e sua camisa, de ir à “Missa do Galo”, ficaram por vários anos guardadas.
Queríamos
o nosso Natal e já não o podíamos ter.
Queríamos
aquele “simples Natal”, onde o Senhor puxava a oração pra ceia.
E
ante a pressa de dormir, na certeza dos presentes... Gostava de ouvi as velhas
histórias do menino criado no Irará por sua avó Ana, montado num cavalo de pau “Com
crina e tudo”, feito por seu tio João da Rosonha.
Do
“Papai Noel de chocolate”, único presente que seu pai lhe deu.
Da
sua bicicleta decorada com uma cara de gato do mato...
Da
“ Touca de Crochê e sua fama de comelão!
Do seu baralho guardado na caixinha de
perfume... Tá comigo até hoje!
Depois Íamos dormir pra cedo acordar e abrir
os presentes.
Um
fusca de plástico verde... Uma
bola “Dente de leite”... Um peão de madeira bem torneado... Carretel de linha para “Arraia” de marca “Três
corações”... Um boneco chamado Paulinho... Um calção com bolso, feito por minha
mãe, pra botar as bolas de gudes... Um vestido “diferente” pras meninas...
E era assim meu “Bom Velhinho”!
Na certeza de um novo encontro.
FELIZ NATAL!
Que estejas com Deus
e com todos os anjos.
Pinho,
ResponderExcluirQue bom que ainda existem contadores de História como você. Ah sim!! Porque você, além de músico, sabe retratar muito bem as histórias da vida.
Foi muito emocinante ler a história do seu Papai Noel.
Um forte abraço
Rhanna.
Pinho,
ResponderExcluirLer algo tão caro e tão profundo para todos nós so poderia ser comparado a presença espiritual do nosso saudoso Papai Noel, face ao sentimento que tomou conta de mim através de lembranças perdidas no tempo. É indescritível o sentimento que me acometeu agora, pelas entranhas do meu intríseco: só a magia do Natal para inspirar-lhe, resgatando um pedaço da nossa história.
Joao.
Pinho,
ResponderExcluirAdorei a sua carta a Papai Noel, o Joao da bola que hoje representa o Noel dos meus filhos é exatamente a herança desse tao estimado bom velhinho que nos deixou relíquias dessa história marcada para toda uma vida e assim também sou presenteada com um verdadeiro Papai Noel.
Estamos muito felizes em recordar tantas coisas boas, pois tb tive um Velhinho e ainda o tenho fazendo sempre o melhor para nós.
Bjs da sua cunhada que muito te admira
Feliz Natal!