terça-feira, 10 de agosto de 2010

E assim... Nasceu Jesus

E assim... Nasceu Jesus
Por Zé Alípio Martins

Meu nome é Armando. Armando Nascimento de Jesus. Fui Batizado com esse nome, pois nasci quase aos vinte e cinco de dezembro. Na verdade fui registrado nesse dia.
Quase que eu não nascia!
Minha mãe estava tão fraca como a luz do candeeiro que iluminava a sala da casa de Dona Maria parteira, assim contou vovô Manoel...
Não era meu avô de verdade!
Era avô de todos nós meninos e meninas daquele lugar esquecido.
Gostava de usar um pequeno chapéu de couro e enfrentar espinheira, inverno e verão.
De olhar tenro e coração fraterno costumava, nesta época, nos presentear com brinquedos que ele mesmo fazia: carrinho de lata, pinhão de madeira, badogue (botoque) de forquilha de araçá...
Em uma noite sem lua, onde somente as estrelas servem de guia, minha mãe se contorce de dor.
- Acho que é hoje Zé.
- Vou arrumar a carroça.
Logo - logo estávamos acendendo a trilha apagada pela poeira desses dias quentes.
Carroça puxada por nosso jegue “mimoso”.
Flor de cajueiro perfumando a estrada.
E a pressa de chegar...
No embate de pedra e raiz, lá se vai o eixo da danada.
- Vamos ter que seguir no lombo do jumento.
O desconforto é ainda maior e o velho “mimoso” parece compreender e amacia os passos.
- Esse animal vale mais de cem conto!
Resmunga meu pai.
Uma luz cruza com a gente numa baixada.
- É a caminhonete de algum Dotô fazendêro!
- Mas, tão com pressa!
Dão boa noite. Um desejo de “Bom Natal”! E seguem...
Mais uma légua e avistamos uma casinha simples.
Um cachorro vira-lata com seu latido fino anuncia a nossa chegada.
Mais perto, já se ouve o som de lata d’água a encher bacia. Chinelo a siscar o chão.
Então foi assim...
Meu pai prometeu que se eu me criasse iria me registrar, me batizar e me crismar no dia do santo menino.
Me ensinar a armar Lapinha apanhando barro em beira de brejo e confeccionar as figuras do Presépio.
E assim cresci...
Armando até hoje o nascimento de Jesus.
Casinha simples. Senhora na varanda. Cachorrinho seco esturricado do lado de um jeguinho cansado. Um homem chamado José e sua mulher chamada Maria e um menino bem magrinho, bem magrinho, chamado Jesus.

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