sábado, 19 de março de 2011


São José!
Rogai por nós!
                                             Por Zé Alípio Martins

               
                                                                            Foto site cademeusanto


Ó bem-aventurado São José, a vós recorremos em nossas tribulações...
Ó providentíssimo guarda da Sagrada Família, guardai...
Concedei-nos o vosso perpétuo patrocínio...
Preservai-nos, ó pai amorosíssimo, de todo o contágio do erro...
Intercedei por mim a Jesus...
                                             (Trechos de reza)

Continuam em sinônimos os pedidos ao Santo:

Senhor São José que o senhor possa...
Mediar, intervir, participar, influir, conciliar, intermediar...

São pedidos dos beatos, das beatas, dos fiéis e dos muitos “Zés” espalhados por todo Brasil. Sabendo que, sem sombra de dúvida, com a sua maior concentração cá pras bandas do Nordeste.

Como confirma os versos do poetas Catulo de Paula e Manezinho Araújo em música imortalizada na voz de Jackson do Pandeiro:

“Vixe como tem Zé
Zé de baixo, Zé de riba
Desconjuro com tanto Zé
Como tem Zé lá na Paraíba”


Hoje, 19 de março... É dia de São José.
São José operário,carpinteiro,esposo de Maria e padrasto de Jesus.
Dia de plantar milho.
De ir à igreja pra o último dia da novena.
Dia de quermesse e de leilão ou “lelão” como o povo fala.
É dia de passear no “Parque de diversões Cacique”, armado ao lado da igrejinha.
Dia de preces e orações.

“Meu divino São José aqui estou a vossos pés
Dai-nos chuva com abundancia
Meu divino São José”
                  (Domínio publico)


Como tantos outros nordestinos também me chamam José!
E eu ia ter o mesmo nome do meu pai! Que também tem o nome do meu avô!
Estava tudo combinado... E, talvez, por isso mesmo, eu ficasse conhecido por Neto ou Netinho. Vixe! Talvez, nem eu mesmo gostasse.
Mas, perpetuando a saga dos “Alipios”, meu pai se tornou Alipinho e eu cresci sendo chamado de Pinho. Apelido de casa, dos familiares e dos amigos mais próximos.
O fato é que minha mãe me contou que, quando ela estava grávida, combinou com meu pai “Se for menino iria colocar o nome dele”.
Naquele tempo não tinha esse negócio de ultrasom! Ultrasonografia... O sexo dos bebês só era revelado na hora do parto! Era uma surpresa!
E olhe que eu ainda nasci de parteira... Mas isso vai ser outra história.
Voltando então...
Minha mãe, certa tarde, dando aqueles cochilos de gestante após o almoço... Comum às mulheres em “estado interessante”! E bote interessante nisso!
De bucho duplamente cheio... Em sono solto...
Sonhou então que um anjo lhe anunciava: “Depois do Antonio virá o José”.
E foi assim que a minha mãe me contou!
Aquele Arcanjo conseguiu naquela tarde me transformar num Zé!
E tive que viver a vida a lutar pra não ser um Zé ninguém.
Um “Zé qualquer”...  Mais um Zé... Um Zé Bedel...

Lembrei-me do dia em que fui receber a minha Carteira de Reservista do Exército e... Um sargento aos gritos tentava organizar a entrega: “À direita os “Josés”.
E fui levado por aquela onda de Zés. Quase morri sufocado dos odores dos sovacos mal lavados e hálitos de quem pouco dormiu.
Passei a ter assim a dimensão do peso de ser um Zé.

Na escola era um problema!
Se o menino não tem o José como prenome a professora tem que recorrer a um apelido pra diferenciá-lo dos demais “Josés”, que tem por sala.
Zé de Túlio, Zé de Maroca, Zé Pavio, Zé Cabeça, Zé Zoião, Zé Preto, Zé Barriga, Zé da Hora, Zé Fubuia, Zé de Noca, Zé Preá, Zé Toco, Zé Moleza, Zé...

Ouvi, certa vez, o desabafo de Zinho (diminutivo de Zé), filho de seu Pereira, vizinho da gente lá em Periperi.
“Não serei ninguém na vida! Por mais que me esforce! Ter esse apelido é fogo! Não posso ser ninguém na vida”.
Segundo ele, por mais que se dedicasse a algo, ia ser sempre um Zinho. Um “fazerdozinho” de algo!
Continuava dizendo:
“Se eu estudar muito e me tornar doutor...
Serei o doutorzinho! Um engenheirozinho, ou um medicozinho! Não vai prestar! Nunca serei um grande homem”.

Talvez, ainda eu, não houvesse me preocupado com isso... Mas, por via das dúvidas... Dou graças a São José por nunca ter sido chamado de Zinho.
Sempre fui conhecido por “Pinho”.
Mais tarde, já integrado à música, veio a satisfação de saber que meu apelido era homônimo ao do violão.

Mas hoje é dia de São José!
Nas roças já deve estar tudo preparado pra receber as primeiras chuvas indicando que o inverno vai ser bom e de fartura! Garantia de boa colheita. Vamos ter milho à vontade pras festas de Santo Antonio, São João e São Pedro.
   

Eu plantei meu milho todo no dia de São José
Se me ajuda a providência, vamos ter milho à grané
Vou colher pelos meus cálculo
20 espiga em cada pé
Pelos cálculo vou colher 20
espiga em cada pé
(Luiz Gonzaga)




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