MÃE É MÚSICA
Por Zé Alípio Martins
Quando comecei a
estudar música, meu professor – professor Raimundo, trompetista, regente da
Banda Marcial e líder da Banda de Baile que animava as festas escolares – me
fez decorar um conceito que não esqueci jamais. E pasmem! Estou me referindo, aos
idos de 1970.
No meu caderno
simples, reservado às aulas de música, que guardo até hoje, anotei pensando que,
um dia, iria esquecer:
Música é a
arte de manifestar os diversos afetos de nossa alma mediante ao som e divide-se
em três partes: Melodia, Harmonia e Ritmo.
Ainda que, o
sentimento bucólico e o ar de saudosismo preencham meu peito sempre que ouço
essa definição de música... E, mesmo sabendo que muitos mestres a utilizam ainda hoje!
Pra mim, nunca foi satisfatória! Penso em música de outra forma! De outro jeito...
Outro dia comento sobre isso!
Pra mim, nunca foi satisfatória! Penso em música de outra forma! De outro jeito...
Outro dia comento sobre isso!
Achei um destino
mais apropriado para a “velha definição”. Penso que se encaixe melhor, a soma dos
predicados que deveríamos sempre postar às nossas Mães, Mamães, Mainhas, Mãezinhas...
Começando com:
Começando com:
Ser mãe é
poder manifestar os diversos afetos da nossa alma mediante ao som...
E ouça...
Dos grunhidos de bebê as primeiras “mal entoadas” palavras e elas (as mães) com seus ouvidos absolutos em percepção Beethoviana, sempre acertam.
Dos grunhidos de bebê as primeiras “mal entoadas” palavras e elas (as mães) com seus ouvidos absolutos em percepção Beethoviana, sempre acertam.
- Já acordou meu
bebê?
- Ah! Tá com fome?
- Tá com dor?
- Tá de xixi...
- Ah! Tá com fome?
- Tá com dor?
- Tá de xixi...
Essa condição a
muito serviria no entendimento às obras dos “Grandes Compositores” e das “Grandes
Orquestras”.
Mãe é música em melodia.
A nossa primeira
lição musical vem do acalanto em doces canções
de ninar nos momentos de inquietação, depois de mamar, na hora de arrotar...
Mãe é música em harmonia.
Na seleção das texturas a compor os nossos cardápios diários. Nas atitudes de compreensão em doces
fragmentos. Na nossa teima, ásperos
ruídos de “Quieta menino”!
Mãe é música em ritmo.
Por vezes,
frenéticos, intensos, em rapidíssimos, uns prestíssimos.
Por tantas outras vezes
em Andamentos lentos, suaves e
cheios de carinhos. Uns Adagios.
Facilmente mudam do compasso 2/4, quando preocupadas e aflitas pela febre 39° C ,
compassos compostos 6/8 ou 12/16.
Mãe é uma partitura completa e complexa.
Começa a ser composta desde
que somos menino...
Da gravidez ao
nascimento, são várias etapas, até as apresentações noturnas.
Recitais intermináveis em solos ou em não raros casos interpretados em duos, trios e até quartetos...
Recitais intermináveis em solos ou em não raros casos interpretados em duos, trios e até quartetos...
Vem chegando o dia
das mães e poucos se lembram desse ou d'aquele fato!Vez ou d’aquela vez.
Não é do meu feitio
mas, esse ano, passarei longe dela.
Gosto mesmo é de passar com
ela! Pegar meu violão e tocar pra ela. Cantar aquelas “musiquinhas” que me ensinou, quando foi a minha professora estagiária
na segunda série primária no Complexo Escolar Anfilófio de Carvalho. E, como toda estagiária da época, por entre
“flanelógrafos” e apetrechos, muitas canções.
Ao chegarmos a
escola, nos dirigíamos ao pátio e, em posição de sentido, cantávamos o Hino
Nacional para hasteamento da Bandeira, íamos pra sala cantando rotineiras
canções.
Sei muitas delas até hoje!Era música pra tudo!
Sei muitas delas até hoje!Era música pra tudo!
Pro dia, pro sol,
pra chuva, pras datas comemorativas, cívicas, merenda e até da diretora (
professora Elza)!
Mãe é uma composição singular. Uma sinfonia especial.
Mesmo quando singela melodia... Consegue esboçar, em diferentes intensidades e articulação, uma
dinâmica de piano ao forte, com sutileza e invejável
resistência.
Seu tema é facilmente identificado... São os
mesmos executados há séculos por suas avós, bisavós e tataravós.
Seus gestos propõem um encadeamento harmônico rico em detalhes e ornamentos. Concluídos em cadências perfeitas.
Nos seus motivos ou Lait
Motiv , podemos perceber peculiaridade inerente a elas. Mesmo quando se
apresentam em diferentes formas e
estilos.
Quando esbeltas ou rechonchudas,
conseguem os mesmos coloridos de forma intermitente,
delineados em movimentos rápidos e
lentos.
Mãe é minha
música predileta
Consigo ouvi-la até
dormindo!Parece que sintonizei um dial ficto.
Está sempre na moda
e nas paradas de sucesso.
E nesse embalo passam-se
os anos...
Às vezes custamos a
entender... Aproveitar... Curtir... Relevar...
Com o tempo aparecem
os problemas interpretativos... Idade,
velhice, saúde, descompasso,
ansiedade, esquecimento, pressão, depressão,surdez, lembranças, frustrações, épocas,
fases, frases, períodos.
E logo, como em toda
“peça” que chega ao final começamos ao ouvir os seus
últimos e singelos acordes. Cadência conclusiva.
Apareçe um desejo extremo,
vindo do fundo do peito e pedimos a Deus que preencha calmamente os seus últimos pentagramas.
Acrescente ritardando. Allargando! Fermata! Algo que retarde a seu fim.
Acrescente ritardando. Allargando! Fermata! Algo que retarde a seu fim.
Que, essa Sinfonia perdure mais um pouco! Se
prolongue em extensos desenvolvimentos
e exposições temáticas! Que não haja um súbito desfecho.
Procuramos ouvi-la
calmamente e os seus sons que em inaudíveis pianíssimos nos tornam surdos
e incapazes.
A cortina se fecha a
mais um grande Concerto.
Ninguém aplaude!
Todos compreendem:
“Toda grande Opus,
tem seu Gran Finale”.
Impressionante a capacidade de obter tantas palavras bonitas para simplificar a palavra mãe. Parabens meu pai pela capacidade e o dom da escrita,Saudade!
ResponderExcluirMãe é muito mais que um simples acorde. Ela é a própria melodia, harmonia: música.
ResponderExcluirÓtimo trabalho meu pai.
Grande beijo.